Fera e Flor
Ele então deu de sonhar
com a Flor cercada
das borboletas azuis e rolas líricas
daquela poesia de Guilherme de Almeida
Ele esquece que a Flor
nasce da terra
e é na terra que ela cresce e desabrocha
É na terra que ela pisa com sandálias de couro
gastas e empoeiradas
Ele então deu de sonhar
com uma Flor árcade,
loura pastora com seus carneirinhos
ou uma Flor intacta
num pedestal romântico a espera de carinho
A Flor não deseja um pedestal
Não quer beijos cálidos e palavras etéreas
ditas sob condições e brumas simbolistas
de um futuro incerto
A Flor é Sol sempre quente,
ardente, tempo presente
Lábio vermelho, unha vermelha, carne vermelha
suor e arfar de pulmões
A Flor é vulgar... mordida-beijo
e vira Lua distante, lâmina cortante, sempre fria
cada vez que ele adia
a concretização do seu desejo
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