quinta-feira, 30 de abril de 2009

Areia movediça

Nada
é o que move meu coração agora
Nada
é o que me senti naquela hora
Nada
dentro escuro, sol lá fora
Nada
somente fobia sonora
Nada
tem no coração e diz que me adora
Nada
é o sentimento que ainda aflora
Nada
além da decisão de ir embora


O Arco-íris

Entro numa fase Calma
depois de tornados e enchentes
que arrasaram e arrastaram sementes de mim

Entro numa fase Doce
não forço mais porta trancada
espero pacientemente que ela se abra
espero pacientemente colher os frutos 
que a vida me reserva
ou não

Entro numa fase Sonho
em busca do fim do arco-íris
onde me espera meu pote de ouro
ou outra coisa boa qualquer

Agora sei que não se passou muito tempo
apesar do muito tempo que se passou
dentro de mim

Entro numa fase Mãe
da qual estive afastada
Amar, Acariciar, Acalmar, Ninar
Não quero ansiedades
me corroendo por dentro
nem muito menos venenos lentos
Quero Paz Serena
movimentos líquidos
amnióticos
Envolver com meu útero a realidade



Fera e Flor

Ele então deu de sonhar
com a Flor cercada
das borboletas azuis e rolas líricas
daquela poesia de Guilherme de Almeida

Ele esquece que a Flor
nasce da terra
e é na terra que ela cresce e desabrocha
É na terra que ela pisa com sandálias de couro
gastas e empoeiradas

Ele então deu de sonhar
com uma Flor árcade,
loura pastora com seus carneirinhos
ou uma Flor intacta
num pedestal romântico a espera de carinho

A Flor não deseja um pedestal
Não quer beijos cálidos e palavras etéreas 
ditas sob condições e brumas simbolistas
de um futuro incerto

A Flor é Sol sempre quente,
ardente, tempo presente
Lábio vermelho, unha vermelha, carne vermelha
suor e arfar de pulmões
A Flor é vulgar... mordida-beijo
e vira Lua distante, lâmina cortante, sempre fria
cada vez que ele adia
a concretização do seu desejo







“Tu te tornas eternamente responsável
por aquilo que cativas.”

 

VIAGEM AO CENTRO DE MIM

 

Arcos e abóbadas,

fontes e tamareiras,

um jardim perfumado.

Sob camadas de véus

procuro um oásis dentro de mim.

Vagueio pelo deserto escaldante:

pés descalços,

a garganta seca

por falar demais das coisas do coração.

Sento para observar

caravanas ao longe,

céu estrelado da minha boca.

Colinas, dunas das minhas curvas

sobem e descem ao sabor do vento.

O corpo do meu querido emana leite e mel...

Emana leite mas não é meu.

Tempestade de areia!

Vou engolir o avião de Saint-Exupéry.


Foi-se um amor, foi-se uma poesia

vou pegar carona com a vida

a vida me levará aos meus destinos

 

Minha dança é um mundo

que me anima, me faz voar

vou pegar carona com a dança

a dança me levará aos meus destinos

 

E é assim que encontrarei forças

(encontrarei forças!)

para me libertar das amarras

com que prendi a mim mesma

 

O futuro promete

agora é a hora

o tempo não é agora

 

Vou pegar carona com o destino

Vou pegar carona com o vento

não mais com o balanço florido

que vai e volta, vai e não volta

e não me leva a lugar algum

não mais com o pêndulo

de um relógio parado no tempo

não mais com o tempo perdido

com ecos surdos

com corações mudos

ao toque do meu amor

Dizem as vozes:

quem sabe um dia... quem sabe um dia?

Que o destino me encontre quando chegar esse dia!

Antes que esperar o raiar da aurora 

Melhor pedir carona ao vento

O vento, esse sim, me levará aos meus destinos.

 

Instabilidade

 

 

Amor leva à loucura?...

Existe tratamento que cure uma paixão?...

Sentimento escondido no fundo do coração,

quando extravasa é o mesmo que

pancadas de chuva, nuvens negras?...

Uma descarga de mentiras

não se transformará em raios?...

Se a resposta é sim, então ainda posso me considerar

apenas um tempo nublado.

Se não, tempo instável, sujeito a chuvas e trovoadas.

 

(Quem limpará o lodo que deixou

o sentimento que transbordou

e virou enchente de lágrimas?...)


ERA UMA VEZ...

 

...um menino bobo

que vivia no mundo do faz-de-conta

com fadas cor-de-rosa e mares  verde-mar

Era uma vez uma menina tonta

que queria o menino bobo

e que só pensava em amar

Depois de um domingo vazio,

a menina tonta decidiu:

“Domínio dos sonhos,

é lá onde o exilarei.

Longe de mim é onde vai estar

aquele que eu tanto amei!

Longe da realidade

não há de me fazer maldade!”

 Etérea

Matéria

Eterna Amizade

(que rima com maldade,

assim como amor rima com Flor,

e também com dor,

mas não (mais) neste caso)

Era assim...Segurando com uma mão na barra do ônibus lotado, uma bolsa em cada ombro mais uma a tiracolo, quarenta graus lá fora, adolescentes lésbicas se apalpando na frente, cheiro de suor... A voz dele ressoava nos ouvidos, molhava os lábios...quando é mesmo que entrei nesta onda? Desejo reprimido, quase explodindo por todos os poros...O calor, o suor, o objeto do desejo muito perto e tão distante... Tingir o cabelo de preto resolve? Grana, talvez resolvesse...O sorriso do professor de natação, Deus! que sorriso mais lindo! A cantada dos executivinhos engravatados, oi, linda! o suor e o calor, o ônibus lotado...desejo explodindo por todos os poros... Te adoro, te adoro, voz quentinha, aveludada... incêndio, logo eu? que sempre fui, mas também todavia contudo, inteligente. E daí? Uma época comparava-se a um iceberg, ultimamente o gelo derreteu, mais próximo seria um vulcão prestes a explodir. Vomitei antes da aula! Será o calor? líquido viscoso, leitoso, esbranquiçado. O centro da cidade, distante? O balanço do ônibus. Meio-dia, ligou prum cara que conheceu numa festa por aí, faz tempo. É, me lembro de ti, aquela amiga em comum, pois é, etc e tal beijão no final, não soube continuar a conversa. Avenida Farrapos, há quanto tempo, nenhum assento vago. Devia ter mandado ele á merda, e no entanto, seria impossível!!! Não custava tanto assim comprar o que ele pedia. Olha a carteira; fim de mês, nota de papel azul solitária... Ir ao banco, comprar o que ele pedia. Coisa de nada, te adoro quentinho, aveludado. Tocar nele, só beijo, que calor! Beijo, se via mordendo com força, beijinho. Lembrou daquela mancha no tapete dele, era vinho. Mulher ridícula, touro de expointer, bom procriador! Se apaixonou por ela, doeu fundo, porque sabia que era interesse de mulher. Tudo bem, dar tempo ao tempo. às vezes não funciona...outras também não. As adolescentes lésbicas!! Se acariciando no ônibus! Na minha frente! Olhares indignados das senhoras de bem. Sou uma senhora de mal, ela ri. Nem sou uma senhora. Me sinto ainda nos vinte. Me acham ainda nos vinte. O ônibus chega ao Mercado, gente, gente, deseja felicidade às adolescentes lésbicas que saem rindo de mãos dadas, pontinha de inveja. O banco. Minha amiga, apaixonada por ele. Romance no ar. Ri. O banco, vinte reais. Comprou, pronto, comprou. Pra fazer ele feliz, um pouquinho só. Já comprou, preciso de uma baby-look preta, que calor!! blusa preta de balaio, tenho classe, ninguém vai notar! O sorriso do professor de natação, que lindo, meu Deus! Outra cantada, é o calor, preciso emagrecer. Ou seria melhor enriquecer. no fundo, não consegue levar um não. Como assim? Te adoro aveludado, quentinho. A fila do lotação. Me pegam pra conversar. Um homem, fala, fala, fala. Tomara que não pegue um engarrafamento... Gritar QUERO MORDER ELE TODINHO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Uma senhora, a tragédia em Santa Catarina. Adeus férias em Floripa, adeus Rio e todos os sanduíches e cds já vendidos, quanta ilusão querer dormir no calor ao lado dele! Sonhos, sonhos afogados na areia da garganta que segura o choro, lágrimas de água de côco.  Em casa, banho, se olha no espelho; não sou tão feia, um colega cantou ela pra jantar, não dá, outro dia quem sabe, talvez. Se o colega  fosse o professor de natação.  Férias, muito tempo e pouca grana. Para espantar seus fantasmas resolve escrever. Pouco antes, ouviu dele te adoro sonolento, quentinho, aveludado...







Ao poeta...

 

Tua indiferença me oprime,

comprime

meu peito

Mas que direito

tenho

de desejar mais do que me dás?

 

Na busca por um ideal

não percebes que o tempo é fatal

e que os minutos não voltam atrás.

 

Minhas palavras são as mesmas

que de outras mil bocas ouviste

E isso é que me faz triste:

não saber ser original

 

Mas não nego que o sentimento existe

E se a minha tristeza persiste

é que não ouço mais tua voz 


Desabafo

                                         

Chuva bate na janela d’alma

lágrimas escorrem pelo vidro frio

amor bandido! (cadela no cio)

mar revolto, lagoa calma

 

O sentimento grita, a palavra mente

beijo morno,

coração ardente


sexta-feira, 10 de abril de 2009

Espetáculo Teatral: A Morte e Eu

 

Languidez

Falta de sono?...

Languidez

Corpo nu

Divã de veludo azul-noite

Mãe-Terra

Mãe-Terra úmida esperando a Semente

Virgem com Lírio na Mão

versus

Touro Bom Reprodutor

Beijo-Mel

Eu sou a Morte?

A Serpente se enrola no Galo-de-Rinha

O Galo-de-Rinha bica a Serpente

Voam penas do coração do Galo-de-Rinha

Voam escamas do coração da Serpente

Catarse Coletiva de 2 Animais

Véu-e-Grinalda

Flores-de-Laranjeira

Chuva-de-Arroz

Freud explica:

 

Aves e Répteis são Ovíparos...

 

Pelo menos alguma coisa a gente tem em comum.


Devaneios Góticos

 

“ Ela quisera arrancar do peito seu coração arrebatado, sem limites e sem fronteiras, sempre - inatingível, inatingível - fera não domada, indomável, presa sempre às masmorras do medianismo, da mesquinhez. Sempre sem poder soltar a fera, e quando solta, livre e feliz que cavalga, ai de si - laços se arrebatam sobre ela e logo se vê novamente entre as quatro paredes da masmorra, encurralada, sem movimentos, dor no peito, porque não é permitido que seja livre, que viva a intensidade da vida, sempre é levada à realidade da masmorra úmida, à falta de graça do medianismo. Queria que a amassem, animalmente, ferozmente, como fosse... Queria que fosse também do outro o prazer. E seria? A umidade escorre pelas paredes da masmorra, as lágrimas brotam - só brotam e não caem, sol lá fora, muito longe, espírito querendo chegar ao Céu, implorando aos deuses que possa abarcar com toda a força INTENSIDADE nesta vida terrena, uma vez... Já não dói, as lágrimas brotam, viajando, não pode chorar. Pode não chorar? Abismo - não é abismo - abismo seria uma solução de desaparecimento. Mamar nas tetas da vaca, sempre no futuro: o país do futuro; o eu do futuro, o futuro que não chega - lágrimas brotam nos olhos; de novo não caem.

A masmorra, escura, acinzentada, esverdeada...Vida se cria, vida, dinheiro? Levanta da cadeira, a masmorra se move com ela. Volta à mesquinhez mediana, à mesquinhez mediana, a intensidade, nem a das lágrimas pode ser...Queria ter feito a diferença naquele pescoço, naquele coração, marca de dois dentes indelével na jugular... “

 

                                                       

 

 

 

 


Flor-de-Lis anda produzindo coisas, devido a acontecimentos recentes...  Daí resolveu ativar este blog, que andava meio esquecido, às moscas, e mesmo assim alguém veio visitar...

*Poesia do Café                                                                                                        

                                                                                                                             

He wrote: "Coffee in my blood

                       I'd leave you if I could"                                             

 

She wrote: "My heart is cold

                     You can leave me if you want

                     (Dark red of blood

                      mixes with iced blue

                      of unstopping tears

                      In violet nights

                      I die of pain I dye myself of pain

                      I wish this pain no more...)

                      My cold is all heart"

 

                      Nothing lasts forever friends

 

 

Meu Mal-do-Século

 

No período ultrarromântico do meu amor por ti

Chorei tantas vezes lágrimas de rejeição

Hoje, depois de experimentar a Antropofagia do teu Pau-Brasil

e a tua iconoclastia que destrói todo e qualquer sinal de pontuação entre nós,

estou na fase do Tudo é Arte:

  Se te fores, certa tristeza muita saudade

  Se ficares, certa alegria alguma ansiedade

  Se te fores e depois voltares

  Estarei te esperando de braços abertos

Da conjunção dos astros depende o Futurismo: "Não te amo nem nunca te amarei"....